Considerações acerca da Sala de Aula Invertida
SALA
DE AULA INVERTIDA
A sala
de aula invertida é comumente associada aos trabalhos do Norte Americanos
Jonathan Bergmann e Aaron Sams, que a divulgaram em 2012 no livro sala de aula
invertida. Professores, Bergmann e Sams iniciaram a adoção da abordagem em 2007,
na disciplina de Química do Ensino Médio, para atender a estudantes atletas
ausentes das aulas devido aos campeonatos que participavam. Utilizando vídeos
gravados das aulas expositivas, davam a opção de os estudantes acompanharem o
conteúdo e, por outro lado, ficavam desobrigados de repetir a explicação. A
ideia foi bem recebida tanto entre os estudantes ausentes da aula presencial,
que conseguiam aprender assistindo às gravações, quanto pelos que compareciam
às aulas, que também se interessaram para auxiliar nos exames (Bergmann, Sams,
2016).
A
partir de então, Bergmann e Sams alteraram a dinâmica das aulas, substituindo o
dever de casa pelos vídeos abordando os conceitos-chave dos conteúdos e permitindo
que o tempo em sala pudesse ser utilizado para acompanhar os estudantes em suas
dúvidas.Aqui cabe enfatizar que a utilização de vídeos é apenas uma das
possibilidades para inverter a sala de aula, e os próprios Bergmann e Sams (2016)
apontam que diversos métodos já existentes poderiam ser caracterizados com essa
lógica. Portanto, não existe uma forma específica par a abordagem, sendo
compatível, também, com outras metodologias como
a
“aprendizagem baseada em projetos” e com a “aprendizagem por descoberta” (Bergmann;
Sams, 2016, p. 45). A título de instigar novas práticas, podemos citar as
referências que seguiram o caminho aqui abordado, que são: a instrução pelos
colegas, com ensino por pares (Mazur, 2015); a aprendizagem baseada em
problemas, com a resolução de problemas norteando a aprendizagem (Berbel,
1998); a aprendizagem baseada em equipes, com os grupos de trabalho
colaborativo (Michaesen; Knight; Fink, 2004); o ensino sob medida, com
atividades ajustadas à aprendizagem (Novak et al., 1999); a aprendizagem por
investigação,
na busca de explicações para uma questão (Carvalho, 2013); e aprendizagem
baseada em projeto, com desenvolvimento de projetos (Hernández, 1998). O
importante é a inversão das aulas, cabendo utilizar a abordagem que melhor se
ajusta a cada contexto. A ideia consiste em incentivar um modelo que valorize o
tempo em sala de aula, destinando-o para a aprendizagem ativa de conteúdos, ao invés
de usar o período meramente para transmitir informações presentes em livros.
Com isso, o professor pode guiar atividades diversas, possibilitar que
estudantes trabalhem em tarefas distintas simultaneamente, executar
experimentos práticos, proporcionar trabalhos em grupos ou individual (Bergmann;
Sams, 2016).
Na
proposta, o estudante tem o primeiro contato com o conteúdo que será discutido
por meio de atividades prévias à aula. Já em sala, o professor esclarece as
dúvidas e aprofunda o aprendizado com atividades que exigem maior nível de
raciocínio e complexidade. Assim, a sala de aula invertida é caracterizada como
“(...) o que tradicionalmente é feito em sala de aula, agora é executado em
casa, e o que tradicionalmente é feito como trabalho de casa, agora é realizado
em sala de aula” (Bergmann; Sams, 2016, p. 11).Inverter a sala de aula tem a
ver com o que se faz com o estudo pré-vi-o, cabendo ao professor orientar uma
atividade que esteja relacionada ao assunto que será trabalhado. Seja assistir
a um vídeo, ler um texto, observar uma simulação, ouvir um áudio ou resolver um
problema, a intenção é que o estudante explore o material no seu próprio ritmo
e, em caso de dúvida, possa recorrer a outras fontes de informações ou, ainda,
abordar em aula com o professor. Com isso, “(...) não precisa mais perder tempo
reapresentando conceitos já bem conhecidos, que apenas devem ser relembrados, nem
usar o valioso tempo em sala de aula para transmitir novo conteúdo” (Bergmann;
Sams, 2016, p. 45).
Outro
ponto é como o encontro presencial será direcionado, devido ao contato prévio
do estudante com o conteúdo. A aula passa, então, a ter um maior nível de
reflexão e complexidade, com participação ativa do estudante que já tem
conhecimento inicial do assunto. A utilização do tempo é otimizada em
discussões pormenorizadas, atenção a dificuldades específicas, resolução de
problemas, discussões em grupo, experimentos práticos no laboratório, entre
outras atividades, estimulando a interação entre os estudantes e o professor. Como
benefícios, Bergmann e Sams (2016) apontam que a inversão das aulas proporciona
uma aproximação com a linguagem dos estudantes, oferecendo maior flexibilidade
àqueles com dificuldade em relação ao tempo; permite que estudantes com
diferentes habilidades possam equilibrar seus processos de aprendizagem,
pausando ou avançando o vídeo quando necessário; intensifica a relação entre o
estudante e o professor, além de maior interação entre os estudantes; e permite
a aprendizagem para o domínio em que o estudante pode progredir conforme seu
próprio ritmo. O que se propõe é que os estudantes assumam a responsabilidade
por sua própria aprendizagem sem, contudo, eximir o professor de suas obrigações.
Como bem reiteram Bergmann e Sams (2016), a função do professor é conduzir o
trabalho de modo a focar nas dificuldades de cada estudante, investindo tempo
em conversas, reflexões e questionamentos. Desse modo, a sala de aula invertida
reorganiza não apenas o trabalho do professor ou o estudo do estudante em casa,
mas transforma a sala de aula em um espaço dinâmico e interativo, estimulando
atividades em grupo, debates e relações sociais.
Referências
BERGMANN, J.; SAMS, A. Flip Your Classroom:
reach every student in every class
every day.
Eugene: International Society for Technology in Education, 2012.
BERGMANN, J.;
SAMS, A. Sala de aula invertida: uma metodologia ativa de
aprendizagem.
1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
BERBEL, N. A.
N. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas:
diferentes
termos ou diferentes caminhos? Interface, Botucatu, v. 2, n. 2, p. 139-
154, 1998.
Disponível em: www.scielo.br/pdf/icse/v2n2/08. Acesso em: 28 jul.
2020.
CARVALHO, A. M.
P. O ensino de ciências e a proposição de sequências de ensino investigativas.
In: CARVALHO, A. M. P. (org.). Ensino de Ciências por investigação: condições
para implementação em sala de aula. São Paulo: Cengage Learning,
2013, p. 1-20
MAZUR, E. Peer
instruction: a revolução da aprendizagem ativa. Porto Alegre: Penso Editora,
2015
MICHAELSEN, L.
K.; KNIGHT, A. B.; FINK, L. D. Team-based learning: a transformative use of
small groups in college teaching. Sterling: Stylus Publishing, 2004..
NOVAK, G. M.;
PATTERSON, E. T.; GAVRIN, A. D.; CHRISTIAN, W. Just-in-time
teaching:
blending active learning with web technology. Upper Saddle River:
Prentice Hall,
1999.
HERNÁNDEZ, F.
Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho.
Porto Alegre:
Artmed, 1998.
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